A Raquel ocultou do marido Luís e dos filhos que tirou uma semana de férias. Só os pais dela sabiam. Durante uma semana andou a levantar-se rotineiramente às 7h, às 8h saia como habitualmente sai para o trabalho, e ia para parte incerta, almoçando umas vezes com os pais e outras nem tanto.
A razão…bem a razão apresentada era simplesmente querer estar de férias, mesmo férias.
Perguntei o significado deste querer. Significava parar, ter tempo para si, dormir até mais tarde no carro se preciso for, sem ter que corresponder aquilo que apelidou de exigências e rotinas familiares.
O Luís apercebeu-se do facto porque numa ocasião, já no último dia das férias, mesmo férias, passou no serviço da Raquel para a levar a almoçar e disseram-lhe que ela não estava…o Luís sentiu o embaraço da colega, que nem se atreveu que de férias se tratava, pois claramente viu estampado na cara do Luís a estupefação de quem ouve algo que desconhecia.-
A partir daí gerou-se a desconfiança, as perguntas sobre os motivos, os sentimentos de abandono e raiva, o querer explicações.
A Raquel acabava por dizer apenas que o único motivo era o que sempre disse: o querer estar de férias. Mas o que a impediu de dizer isso mesmo à família lá de casa?
Sentiu que não ia ser compreendida, o Luís está em teletrabalho e iria protelar a saída de casa para primeiramente cumprir os afazeres profissionais.
– Desculpa mas não aceito isso. Este ano só tenho 15 dias de férias por ter mudado de trabalho, por isso compreenderia.
Mas depois há os miúdos que têm o seu ritmo, e a Raquel que estava muito cansada da casa, do confinamento e das sujeições. Afinal até achou que os próprios filhos preferiam estar em casa sem compromissos e sem saídas.
– Mais uma razão. Mais uma razão para nos teres sido franca.
E mais uma vez vem a ideia de que não seria aceite no seu desejo.
– Mas já existiram outras vezes em que não relatou exatamente o que desejava por receios?
– Sim, sem dúvida. O Luís não se apercebe mas tem muita dificuldade em aceitar as minhas ideias e opiniões, e às tantas eu só quero evitar discussões!
– Sabia disto Luís? Que a sua mulher raramente tem este à vontade consigo.
– Pois, parece que sim, mas é um disparate pegado.
E aqui estamos num processo terapêutico, a recuperar a confiança de um e o espaço do outro. Nas relações é importante que todos tenham espaço, que todos possam desfrutar de ser quem são. Por um lado porque a individualidade é importante, por outro porque também é uma forma de respeito para com o outro, não ocultando o que realmente se quer ou pensa…
E consigo como se passa? Já ocultou factos? Já senti que não podia contar as coisas como são? E quem já sentiu que não mereceu a verdade do companheiro?
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar I Contacto para agenciamentos: 911 846 427