Percebi que os teus olhos já não brilhavam mãe. Vi que o pai começou a estar ainda mais preocupado. Senti que os desacordos eram mais e maiores, do que o seu contrário, e, naquele dia, durante o lanche que tomávamos na pastelaria que fica ao pé do parque infantil, aquela em que o sol nunca entra, tu falaste no trilho da mudança. Eras cautelosa em cada palavra, evasiva, mas ainda assim percebi:
– Tenho andado a pensar em mim e no pai…não sei o que fazer…às vezes penso que é melhor seguirmos caminhos diferentes. Isto seria difícil para ti?
Que pergunta!!! Achei-a tão estranha…eu não sabia o tamanho dessa dificuldade! E hoje penso que tu não sabias o tamanho da dificuldade dessa pergunta. Senti que tudo podia mudar, não sei o que era o tudo, mas seria algo diferente com certeza.
De seguida reforçaste que sempre me amariam, e que eu continuaria a ser a predileção dos dois. A predileção perdida era entre vocês, nada tinha a ver com a predileção por mim. Essa era sólida, estável, para sempre. Convenci-me.
– Percebo mamã – e senti duas bolinhas brilhantes a soltarem-se e descerem escancaradas pela minha bochecha esquerda, contrariando o que eu dizia perceber.
A mamã pediu desculpa: Desculpa-me!
********Apertou as minhas mãos nas suas e disse-me que ia correr tudo bem**********
Eu tinha que acreditar! Só podia e só queria acreditar. A mamã devia saber o que dizia. Mas eu fiquei-me a pensar, fiquei-me a desandar daquela história sobre mim e sobre a minha família … foi por isso que não escrevi esta carta, e optei per deixá-la aqui por escrever. Não queria preocupar mais ninguém com dúvidas que eram minhas, dúvidas do miúdo sobre decisões dos graúdos…
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal