Marina Abramovic, fotógrafa performer, tomou conhecimento sobre a SantaTeresa de Ávila na época em que se converteu ao budismo tibetano. As histórias sobre levitação, contidas nos diários de Santa Teresa de Ávila, despertaram grande interesse na fotógrafa, que resolveu unir essas experiências com suas vivências de infância, na cozinha de sua avó.
É natural que os artistas se inspirem na sua história pessoal e no seu passado. Em criança, era na cozinha que Abramovic contava os seus sonhos à sua avó, e dela ouvia histórias. As imagens de “A Cozinha”, homenagem a Santa Teresa, retratam a importância que este ambiente tem na vida da fotógrafa. Para ela, é na cozinha que se mesclam o mundo espiritual e o mundo doméstico da vida diária.
Levitation of Saint Teresa, 2010,
Marina Abramovic (Serbian, born 1946)
A cozinha é um espaço muito rico numa casa, um espaço em que se preparam não só refeições, mas onde se desenvolve o amor de servir o outro, de temperar as relações com doçura, de confecionar pratos preferidos, de apurar paladares e odores.
A mesma artista, como só uma alma de artista o consegue, fez, em 2o1o, uma performance no MoMA que consistia em ficar sentada numa cadeira por 12 horas; 6 vezes na semana, durante 3 meses. Não existiam pausas para comer ou beber. Os visitantes do Museu tinham a possibilidade de se sentarem frente à artista, em silêncio, e estabelecer uma conexão única, sensitiva, com linguagem corporal, emotiva e inspiradora.
Também nós muitas vezes, não tendo a capacidade de nos fazer deslocar do solo fisicamente, deslocamo-nos do ambiente que nos rodeia em sonhos longínquos e em pensamento.
Outro exemplo muito rico que Marina traz-nos a experiência da necessidade de sairmos do terreno, sobrevoarmos os nossos espaços de eleição e de vivências ricas e a de experimentar o silêncio perante um desconhecido e simplesmente desfrutar a sua presença.
Sem dúvida os artistas imprimem uma novidade e desafios enormes à vida quotidiana, que nos fazem interrogar sobre o modo de como podemos tornar mais intensa a nossa vida e as nossas expedirências. Daí a importância de todos termos um pouco de alma de artista, para que nos possamos permitir ter olhares diferentes.
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal