Se a casa existisse até podíamos, podíamos ensaiar o que com ela aprendemos todos os dias, as rotinas, os lugares, os bafos, os murmúrios, o cheiro da água a correr nos canos e o ouvir dos cozinhados.
Mas a casa está em nós e em cada um, cada um com a sua, mais ou menos arrumada, digo arejada; mais ou menos alegre, digo, desperta. Uns chamam-lhe alma, não me parece mal, a nossa casa ser a nossa alma.
Há quem tenha como casa a sua alma, o seu eu mais íntimo e ainda assim também o desconhecimento é real. Porque há outras ocorrências que não controlamos, não controlamos nem quanto ao facto de acontecerem, nem quanto ao que as próprias despertam em nós.
Tão difícil lá chegar a esse recôndito lugar, sem morada certa, sem código postal e sem a ordem humana das coisas.
– Manel tens alma?
-Alma eu? Que raio?
– Sim alma, o lugar onde moras, o lugar onde te demoras…
– Eu demoro-me, mas não sei se é lá ou na alma dos outros …sei lá eu de almas, não as conheço, nem a minha, nem a dos outros!
Conhecemos o que vemos e a que chamamos realidade, o nosso pequeno cosmos, previsível, regulado.
Mas no mundo também se passa o confronto com o desconhecido, desconhecido dentro do que existe e desconhecido dentro do que pode vir a existir, e é o nosso caos.
Que pequenos somos!
E há os sem-alma, em pobreza de sonhos, em pobreza de um lugar onde ficar.
*****************
Deixem-me entrar, não quero ficar à porta, sem poder experimentar viver no conhecido, se é que é possível, o que se conhece é um retrato do momento, apenas daquele instante. Se fosse um instante mais à frente seria outro o conhecimento.
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal