Quando estamos nas relações com os outros, sobretudo os que nos são mais próximos, de forma natural, adquirida e espontânea já (quase, quase sempre) se torna fácil perceber como o outro vai reagir perante aquilo que acabamos de fazer ou dizer. São interações diárias que estabelecemos, que provocam e estimulam reações em nós, e de tão padronizadas serem muitas vezes são necessárias à homeostase da família.
Ainda que sabedores do desagrado que por vezes provocamos nos outros, não nos impedimos de tomar certa atitude, e além da a tomar, mantermo-nos nela **********
No entanto, estas relações conhecidas permitem o equilíbrio da família, não porque são necessariamente apelativas, mas por serem conhecidas de todos. Aliás, se alguém arriscar a ter um comportamento/comunicação diferente, é que poderá conduzir a um estado de confusão, porque não era o previsível.
Assim, geramos rotinas relacionais e comunicacionais, que ainda que não nos sendo confortáveis, nos garantem um controle da situação, uma certa organização, que apreciamos por nos tranquilizar.
E quando falamos em comunicação não são só as palavras, é também a comunicação não verbal: o encolher de ombros, o revirar de olhos, a estupefação, o sorriso, e um sem mais número de sinais.
Hoje a abrir a rubrica das rotinas trago-vos esta situação: Os nomes são fictícios, a história talvez não e pode estar a ser vivida por algum de nós.
O Rodrigo tem alma de artista, é o filho mais velho de dois. Tem 18 anos, começou a vestir-se de preto, e quando apareceu com a orelha furada foi a gota de água. O pai não admitiu e confrontou-o com o facto de “Na Minha Casa NÃO”.
A mãe intercede e acorda com o filho que ao entrar em casa tira a argola. O pai finge que não percebe, e o irmão sorri: já vai conseguir o que quer.
Depois seguiu-se a tatuagem, e um dia em que se juntou a tatuagem, a argola que não foi tirada a tempo e um horário não cumprido.
A mãe já sabia que a coisa ia dar para o torto. O Rodrigo foi expulso de casa. A mãe entretanto já tinha feito o contacto com a irmã solteira para ele lá ficar, e passadas 3 semanas acontece assim:
O pai não fala com o Rodrigo e “não quis saber mais dele”. A mãe visita-o diariamente e leva-lhe o que ele precisa, e o irmão mais novo acompanha-a muitas das vezes.
Em casa não se toca no assunto, mas todos sabem que todos conhecem o caso e como está a ser vivido. A mãe espera uma altura melhor para tocar no assunto aos pai, o irmão acha que não tem voto na matéria e ainda pode sobrar para ele, o Rodrigo acha que não havia razão e o pai considera que o filho tem que respeitar as suas regras e no mínimo deve um pedido de desculpas.
O pai sabe onde está o Rodrigo, mas assume o papel de que não, e por isso fica “descansado” e com permissão para continuar a manter a sua autoridade de assim “Na Minha Casa NÃO”.
O pai finge que não vê a mãe chorar, e cala o seu próprio sofrimento.
O Rodrigo pergunta como está o pai, a mãe diz que bem, mas que ele já sabe como o pai é!
E a rotina instalou-se. Todos sabem o que acontece, ninguém muda, mas também ninguém está confortável. Não mudam talvez porque assumissem que era assim, que cada um deles é assim, mas não, não tem que ser assim.
Vá venham a uma sessão de treino de relações familiares e permitam-se ser felizes! Não insistam naquilo que traz sofrimento.
Se todos sabem de tudo porque não abordar o assunto francamente e trilhar um caminho. Ficar parado a ver acontecer não contribui para a resolução, só para a fragilização da situação!
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal