Restava tanto de nós para viver, para nos darmos, para darmos aos outros e ao mundo, restavam sonhos, vivências, ambições por concretizar, planos por realizar, mas não contávamos que não nos restava o domínio de nós mesmos.
A doença surgiu inesperada, característica de todas as doenças e de tudo o que é menos bom, e sem nos preparar, sem nos dar tempo para o que restava, arrancou-te de nós e arrancou-te do resto.
Viver com esta realidade é um desafio para o qual neste momento, não sinto, não sentimos, que nos restem forças, porque o que tínhamos para fazer para o resto das nossas vidas era contigo, com a tua presença, com a tua cumplicidade.
Quando alguém desaparece de nós, sem que estivéssemos a prever a dimensão dessa realidade, transforma-nos e deixa-nos desamparados, por isso não podemos compreender o impacto do prematuro, agravados pelos motivos que foram. Quando foste para o hospital restava a esperança, a minha, a tua, a deles, bem como a confiança de que cuidariam de ti.
É com esperança e confiança que traçamos caminhos, desenhamos projetos, pensamos no futuro, e quando estes dois pilares nos falham, em que nos podemos apoiar?
Sim, porque temos que acreditar que quando se tratam de respostas que nós não temos para dar, e ao dependemos de outros, ninguém nos vai falhar, sem hesitação, mas o que acontece é que a falha imprevisível é uma certeza com a qual temos que contar, pelo simples facto da vulnerabilidade que caracteriza o humano.
Sentimo-nos tão culpados por termos acreditado e por termos tido esperança e confiança, que nos é retirada a capacidade de confronto com a falha, e agir, interpormo-nos ao destino que te começaram a traçar e que te conduziria à morte e ao fim prematuro de tudo o que te restava.
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal
Consultas de 2ª a sábado após as 17h nos dias úteis, e manhãs de sábado. Faça o seu agendamento pelo TM 911 846 427. Clinica Biuti, em Alvalade.