Apanhar aquele comboio foi o melhor que me aconteceu, poder sentar-me e olhar pela janela, como que em jeito de despedida.
Despedida dos que ficam, dos que conheci, dos que ficaram por conhecer, dos que não quis conhecer, dos que quis conhecer e não conheci. Não conheci mas vou conhecer agora, a minha querida bebé desgarrada de mim mal quis nascer, e que ao não conseguir nascer me impediu de viver também.
Passaram quinze anos, quinze anos de lágrimas por não ter podido suportá-la, aconchegá-la, amá-la, mas finalmente a vida foi justa.
Tenho 40 anos e diagnosticaram-me esta doença terminal que para muitos seria fatal, mas para mim essa fatalidade reverteu-se na certeza de me poder juntar a ela. É essa esperança que agora, neste momento exato da partida, me faz sorrir serenamente pela certeza de nos irmos encontrar em breve.
Acho que nesse sentido o Alfredo até ficou com pena de não me acompanhar. A tranquilidade que lhe transmiti por este encontro tão avidamente esperado por mim, também lhe conferiu tenacidade a ele. Sim, o Alfredo sabia que na realidade eu tinha deixado de viver.
Nunca suportei a ausência daquela parte de mim, perdi o fogo que nos abrasava, já não nos sentíamos na nossa intimidade. Ele quis aceitar-me e compreender, mas claro que isso não o satisfazia, nem a mim. Mas fiquei toldada pela mágoa, por isso, quando me fecharam os olhos senti levantar-me pressurosamente, com destino à minha nova vida.
Também quero deixar viver o Alfredo a quem tanto devo pela dedicação que não lhe dei, pela compreensão que não lhe tive e por uma entrega recusada desde então.
Desejo que Anjos me anunciem para que nos possamos encontrar, nunca nos vimos, mas eu amo-a e acho que também ela não se impediu de me amar.
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal
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