O vamos indo é uma resposta muito utilizada quando nos perguntam como estamos e não significa mais do que vamos estando. Nesta
afirmação está subjacente um desejo de um dia virmos a ESTAR. Como se eu não me decidisse verdadeiramente a ESTAR alguém decidiu por mim – o juiz, a pedido do meu marido, que naquela terça feira, 13, me leu a sentença declarando a ré, eu própria, culpada, por não amar incondicionalmente o marido.
“Não separe o homem o que Deus uniu”. A ré é condenada a amar perpetuamente o homem que escolheu como seu marido.
A sentença não me saia da cabeça. Nunca pensei que tivesse que ser sentenciada a amar perpetuamente porque oamor é voluntário, trancende a nossa vontade Porque eu quero amor agora e sempre, e sempre quis, mas se calhar não queria um amor perpetuo, porque ser perpetuo significa que se vai arrastar para lá de tudo, até da própria vida.
Antes fosse condenada a simplesmente amar, ou a simplesmente deixar-me ser amada. Amar não devia poder ser sentenciado, mas o positivo da sentença é a sua pouca ou nula probabilidade de ser garantida. Na verdade nunca ninguém poderá garantir que essa pena é cumprida porque o nosso eu interior possui áreas intransponíveis que só a nós respeitam e mesmo assim nem sempre nós compreendemos.
Bem, mas a sua insegurança impelia-o a ter uma sentença escrita. O sentimento afinal não lhe daria tanta tranquilidade como um papel em jeito de sentença em que o amor poderia ser perpetuamente reclamado. Mas como se pode ser o Anjo de alguém, quando falamos de amor e os anjos nem sexo têm?
O juíz não sabia que a sua sentença estava ela própria condenada: eu não amaria ninguém perpetuamente.
Alexandra Alvarez I Terapeuta Familiar, Parental e Conjugal
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